O “olho do mal” é uma crença místico-supersticiosa muito antiga e mundialmente difundida. O “olho do mal” é um pensamento dirigido, um olhar carregado de maldade, de maus desejos, más projeções. O “olho do mal” é essa energia nociva dirigida a alguém ou a algum objeto. Carregado de inveja e maldição, o “olho do mal”, considerado causa de má sorte é associado à bruxaria, feitiço, encantamento. Até onde a história ocidental pode rastrear, o conceito de “olho do mal” tem origem na antiguidade clássica do Oriente Médio; a crença se espalhou pelas Américas, ilhas do Pacífico sul, Ásia, África e Austrália, levada pelos europeus durante o ciclo das “grandes navegações”. [Uma visão mais ampla da história revela que o “mau olhado” é muito mais antigo e mais universal do que apressadamente supõem os estudiosos ocidentais].
O mau olhado é um PODER que a tradição relaciona ao “terceiro olho”, o olho espiritual que o povo costuma representar localizado no centro da testa [mas cuja sede, segundo ocultistas, na verdade, se localiza na base do crânio. na glândula pineal]. O TERCEIRO OLHO é entendido como um órgão que, no homem contemporâneo, é normalmente atrofiado. Este órgão, que no passado remotíssimo servia para a percepção das realidades subjetivas, metafísicas, vidência, e projeção de energias, pode ser ativado ou ser naturalmente ativo em algumas pessoas: pessoas que têm percepção paranormal, além das faculdades comuns, dos sentidos físicos “normais”.
Na Itália, o “mau olhado” é chamado malocchio; na Espanha, malojo (olho mau); em hebreu é ayin horeh; em árabe, harsha; droch shuil, em escocês; mauvais, na França; bösen blick, na Alemanha; matiasma, para os gregos; o oculus malus, entre os romanos antigos.
A crença tradicional é de que alguém pode provocar dano à saúde alguém, aos filhos de alguém, dano à propriedade, às colheitas, aos negócios e todo e qualquer sinal de prosperidade e bem estar, por inveja, ambição e sentimentos semelhantes. O dano é causado pela projeção do olhar, expressão física de um pensamento negativo. A posse de bens materiais, o sucesso e a beleza são os atributos que, em geral, despertam o “olho mau”. Por esta razão, muitas celebridades se queixam de má sorte ou de “ondas de infortúnio’. A visibilidade resultante da fama aumenta a possibilidade estatística de alguém ser vítima do “mau olhado”.
O mau olhado é como um golpe na aura que produz reflexos em todo o ser mental e físico da vítima susceptível, “corpo aberto”. Diz o folclore que o “olho do mau” desidrata o “alvo”. Causa vômito, diarreia, seca o leite de mulheres que estão amamentando, envenena o sangue, causa impotência sexual, queda de cabelo, infecções (baixa da capacidade de reação do sistema imunológico), seca os campos, destrói os bens, ceifa lucros. No plano astral, drena o prana (sopro, energia vital).
Frequentemente, o “mau-olhado” é um poder involuntário. A pessoa que emite a energia negativa quase sempre não sabe que “faz” o mal com seus pensamentos mais recôntidos. Muitas vezes, os maus pensamentos não são reconhecidos pelo pensador. Na Itália, quem tem “mai olhado” é chamado jettatore – projetores. Em culturas antigas, quando uma comunidade identificava um jettatore, este era banido do convívio social.
Existem “antídotos” preventivos para o “olho do mal”. O mais comum é um gesto de mão: a a figa – Mano fico ou Fig hand feita de prata e ornada com pedra preciosa. Ainda na Itália, para saber se alguém está “de olhado” – vitimado pelo mau-olhado, usa-se a simpatia de derramar o óleo de oliva na água; se o fio de óleo formar a figura de um olho a pessoa é considerada atingida pela maldição. Na Ucrânia, uma forma de ceromancia, leitura da cera de uma vela, é usada para diagnosticar o mal. A cera líquida é depositada na água e procede-se à interpretação das imagens que aparecem. Confirmada a maldição, o “paciente” deve ser banhado com água benta.
No México, um curandeiro passa um ovo não cozido pelo corpo da suposta vítima. Depois, quebrado o ovo, procede a leitura da gema. Em outra versão, o ovo é colocado debaixo da cama do “enfeitiçado” por uma noite. Pela manhã, se faz a leitura da gema. Na China, os místicos usam o Pa-Kua – um espelho de seis faces é colocado em frente à porta da casa ou em frente a uma janela. O espelho devolve a energia ao emissor. A ciência-arte do Feng Shui utiliza esses espelhos nos processos de cura de transformação da Har Shui – energia negativa.
Na Índia, os espelhos também são usados contra o mau-olhado, costurados nas roupas. Vem da Índia a tradição de que os olhos são os “espelhos da alma”. A maquiagem usada pelas mulheres, destacando os olhos, é um recurso de projeção da alma, fortalecimento da personalidade e de proteção contra os olhares nocivos de terceiros.
Outro recurso indiano muito usado nos campos é o “olho reverso”, ou olho que protege contra olho. Grandes vasos esféricos com círculos vistosos pintados na superfície são espalhados nas plantações. Amuletos de proteção como os anéis, tiaras e pingentes de pescoço também usam a figura do olho para rebater o mau-olhado. Nestes casos, o princípio de defesa é dispersão da energia do olhar. O “olho mau” é desviado para os objetos redondos, coloridos e brilhantes antes de mirar em uma vítima humana ou nos bens de uma vítima humana. A energia ruim é absorvida em boa parte pelo amuleto.
Os amuletos têm sua eficiência física e metafísica, porém a defesa contra mau-olhado é uma aura fortalecida pelos pensamentos positivos, pela percepção de si mesmo como unidade energética inviolável, impenetrável para qualquer outra energia de interferência desarmônica.
MAU OLHADO
No Norte, onde os instintos são mais reprimidos e mais vivazes; na Itália, onde as paixões são mais expansivas e mais ardentes, ainda são temidas as sortes e o mau olhado; em Nápoles, não é desafiada impunemente a jettatura, e até reconhecemos, por certos sinais exteriores, os seres desgraçadamente dotados deste poder. Para garantir-se contra isso, é preciso trazer consigo chifres, dizem os práticos, e o povo, que toma tudo ao pé da letra, apressa-se em enfeitar-se com pequenos cornos, sem pensar no SENTIDO DA ALEGORIA. Os chifres, atributos de Júpiter Amon, Baco e Moisés, são SÍMBOLOS da força moral e do entusiasmo; e os magos querem dizer que para desafiar a jettatura, é preciso DOMINAR POR UMA GRANDE OUSADIA, um grande entusiasmo ou um GRANDE PENSAMENTO a CORRENTE fatal dos instintos. (LEVI, 1995 – p 196)
ENFEITIÇAMENTOS
[…] afirmamos sem temor que o enfeitiçamento é possível. […] não só é possível como também é, de algum modo, necessário e fatal. Realiza-se sem cessar, no mundo social, sem conhecimento dos agentes e pacientes. O enfeitiçamento involuntário é um dos mais terríveis perigos da vida humana. […] Há, pois, duas espécies de enfeitiçamentos: o enfeitiçamento involuntário e o enfeitiçamento voluntário. Pode-se também distinguir o enfeitiçamento físico do enfeitiçamento moral.
IMAGINAÇÃO – Um dos poderes mais estranhos da imaginação humana é o da realização dos desejos da vontade ou até de seus temores e apreensões. A pessoa crê facilmente no que teme ou no que deseja, diz o provérbio, e tem razão, porque o desejo e o temor dão à imaginação uma força realizadora, cujos efeitos são incalculáveis.
Os mestres ocultistas advertem que o medo é a principal porta de entrada para a energia venenosa do mau-olhado. Os acreditam e, sobretudo os que temem o poder do enfeitiçamento são os mais susceptíveis a serem atingidos pela jettatura (magia do olho). O medo, a culpa, e o temor podem levar à ruína, doença e mesmo à morte por um processo de autossugestão, bastante conhecido em psicologia. O fenômeno da autossugestão é o princípio mestre no qual se fundamenta toda a eficácia do olho do mal.